Atividade industrial é determinante para o PIB capixaba, por Ana Carolina Giuberti

O Boletim Econômico Capixaba de fevereiro trouxe em destaque um texto da especialista convidada Ana Carolina Giuberti. Ela é professora do Departamento de Economia da UFES e doutora em Economia do Desenvolvimento pela USP. Confira abaixo os principais trechos:

O papel da Indústria na Economia

Em 1954, Arthur Lewis, no trabalho “Economic Development with Unlimited Supplies of Labour”, mostrou que o desenvolvimento de economias pobres, que apresentam uma estrutura dual - formada por um setor atrasado, cuja produtividade marginal do trabalho é ínfima e o salário é dado pelo nível de subsistência, e por um setor moderno, que opera com alta produtividade do trabalho - passa por uma mudança na sua estrutura produtiva, a partir do crescimento do setor moderno com absorção de mão de obra do setor atrasado. Com a ampliação do debate em torno do tema, com os trabalhos clássicos de Prebisch, Rosenstein-Rodan, Hirschman, entre outros, a indústria foi apontada, pelo campo do desenvolvimento econômico, como o setor moderno capaz de promover o desenvolvimento destas economias.

De fato, em comparação aos demais setores da economia, a indústria impulsiona o crescimento econômico por sua capacidade de absorver grandes volumes de mão-de-obra, ainda que com baixa qualificação, e alcançar alta produtividade do trabalho, a partir de poucas condicionantes. 

Ao longo da segunda metade do século XX, um grande número de países promoveu a industrialização de suas economias, alcançando níveis altos de renda per capita, a exemplo da Coreia do Sul, ou níveis médios de renda per capita, como os países da América Latina, incluindo o Brasil, e passaram a ter a indústria como o motor dinâmico da atividade econômica.

Como ilustra o gráfico, na última década as flutuações na atividade industrial foram determinantes para as variações registradas no PIB do estado.  Embora os setores de comércio e serviços representem, em conjunto, mais da metade do valor adicionado da capixaba, é a indústria quem tem estabelecido a dinâmica da economia.

No caso particular do Espírito Santo, a entrada em operação de novas usinas de pelotização de minério de ferro a partir do segundo trimestre de 2014 e a posterior paralisação da Samarco, com o rompimento da barragem em Mariana, explicam o forte crescimento e a intensa queda da produção industrial e do PIB no período. No entanto, além de explicar as flutuações observadas, estes fatos demonstram como a concentração da indústria capixaba, em torno do setor extrativo, torna a nossa economia mais volátil e suscetível a instabilidades.

    A industrialização transformou o cenário econômico capixaba, a partir dos grandes projetos das décadas de 1960/1970, e hoje o setor industrial tem papel importante na economia do estado, não apenas na geração de renda e emprego, mas também na determinação de sua dinâmica.

A diversificação das atividades industriais capixabas e a inovação industrial, tanto em produtos quanto em processos que ampliem a produtividade do trabalho, apresentam-se como caminhos para uma nova fase de desenvolvimento local.

Isto deve ser pauta de intenso e urgente debate e ações das instituições capixabas, incluindo o setor público, que não deve se abster do seu papel de fomento neste processo.

Sobre o(a) editor(a) e outras publicações de sua autoria

Silvia Varejão

Economista, mestre em economia pela UFES. Gerente de Estudos Econômicos. Foi analista de estudos e pesquisas no Sistema Findes e pesquisadora no Instituto Jones dos Santos Neves. Possui experiência na área de estudos industriais, tributários, finanças públicas e planejamento governamental.