BEC de julho traz em destaque o aumento dos preços dos combustíveis no Brasil e apresenta um comparativo entre os estados

PUBLICADO EM 30 Jul 2021

O preço dos combustíveis para veículos no país, medido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acumula alta de 43,9% nos últimos 12 meses encerrados em junho. Mais especificamente, a inflação dos combustíveis foi de 42,2% no preço da gasolina, de 59,6% no etanol, de 40,7% no óleo diesel e de 30,0% no gás veicular. Outros produtos derivados do petróleo essenciais no cotidiano do consumidor brasileiro, o gás de botijão e o gás encanado, acumulam alta de 24,2% e 13,4% na variação em 12 meses, respectivamente. Esses produtos representam 8,4% das despesas das famílias brasileiras que recebem de 1 a 40 salários mínimos, de acordo com a atual metodologia do IPCA e a mais recente Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2017-2018 do IBGE. Além disso, muitos desses produtos são adquiridos por empresas de diversos setores como o de transportes e o de alimentos, o que acaba elevando os custos de produção, refletindo no aumento dos preços do produtor.

A formação dos preços de combustíveis ao consumidor final no Brasil é composta, essencialmente, por quatro componentes: (i) preço de realização do combustível de petróleo (preço do produtor); (ii) custo do biocombustível para os casos da gasolina C e óleo diesel; (iii) margens brutas de distribuição e revenda; e (iv) tributos federais e estaduais.

Para a gasolina, a maior parte da composição do preço final deste produto advém da incidência de tributos estaduais e federais  (43,9%), sendo o mais expressivo a incidência do ICMS. Já para o óleo diesel A S10, os tributos não representam a maior parcela do preço final do bem. A parcela dos tributos federais é menor no gás de botijão (GLP), sendo a maior parte do preço final desse produto explicada pela margem bruta de distribuição e revenda.

Como os combustíveis são commodities, assim como a soja e o minério de ferro, os preços desses bens são tipicamente voláteis, fazendo com que os reajustes de preços, tanto para baixo quanto para cima, ocorram de forma mais frequente e que os produtores, como a Petrobras, pratiquem os valores cobrados pelos combustíveis alinhados ao preço de paridade de importação (PPI), ou seja, o custo do produto importado trazido ao país. 

O custo de importação da gasolina A comum apresentou forte aumento nos três primeiros meses de 2021. Em fevereiro de 2020, o PPI médio da gasolina no Brasil era de R$ 1,79 por litro. Já um fevereiro de 2021, o custo de importação por litro foi de R$ 2,51, aumento de 40,8%. Na etapa de produção, nesta mesma base de comparação, o aumento da gasolina foi de 23,6%, chegando ao preço médio de R$ 3,29 e, para o período analisado, atingiu o seu maior valor no mês seguinte (R$ 3,71). Na etapa de distribuição, os preços médios seguem a tendência do preço do produtor até o mês de março, assim como a tendência do preço médio de revenda. Contudo, os preços médios de distribuição e de revenda deixaram de seguir a tendência do preço médio do produtor a partir de abril. 

                                            Gráfico  – Evolução dos preços médios da gasolina* - R$ por litro

Nota: (1) Não houve pesquisa de preços de revenda em setembro de 2020; (2) O preço médio do produtor não inclui ICMS. (*) Nas etapas do PPI e do produtor, o preço médio da gasolina corresponde ao preço da gasolina A comum. Nas demais etapas, a gasolina analisada é a do tipo C, já com adição de biocombustível. Fonte: ANP / Elaboração: Ideies / Findes.

Em junho de 2021, o Brasil registrou um preço médio de revenda da gasolina comum de R$ 5,687 e de distribuição de R$ 5,184. No mesmo mês, o Espírito Santo registrou o 11º maior preço médio de revenda da gasolina entre os estados brasileiros, no valor de R$ 5,777. Os dados da ANP por unidade da federação mostram que o coeficiente de variação entre o preço médio de distribuição e o preço médio de revenda no estado foi de 9,5%. Já para o combustível óleo diesel S10, o Espírito Santo marcou o 4º menor preço médio de revenda (R$ 4,467) e, para o gás de botijão (R$ 84,134), o estado ficou entre os 10 com o menor valor médio. 

Além dos reajustes nos preços realizados pela Petrobras, alinhados ao preço de paridade de importação e influenciados pela valorização dos preços internacionais dos pretóleos e derivados, entre outros fatores que podem explicar o encarecimento dos combustíveis estão a elevação dos preços dos biocombustíveis misturados aos derivados e o aumento de demanda com a retomada da economia a partir do 2º semestre de 2020.  As exportações de derivados de petróleo aumentaram na passagem de 2019 para 2020, ao passo que as importações têm registrado queda ao longo dos últimos anos. Esses fatores podem ter impactado as vendas internas, refletindo em aumento dos preços por conta de uma demanda maior com a retomada das atividades econômicas.

  • Confira abaixo os destaques das demais seções da publicação do BEC de julho:

Atividade Econômica

O indicador mensal de atividade econômica do Banco Central, que pode ser interpretado como uma prévia do PIB, voltou a registrar resultados positivos na variação acumulada em 12 meses encerrados em maio. Para o Brasil, o indicador aumentou 1,07% e para o Espírito Santo o crescimento foi de 1,72%. Para o ano, as expectativas de mercado sinalizam um crescimento de 5,29% no PIB do país, de acordo com o Relatório Focus do Banco Central. Na última revisão das estimativas, o FMI aumentou de 3,7% para 5,3% a projeção do PIB do brasileiro em 2021.

Desempenho Industrial

A produção industrial nacional acumulou alta de 4,9% em 12 meses encerrados em maio, impulsionada pelo crescimento de 5,7% da indústria de transformação, ao passo que a indústria extrativa contraiu -1,5% no período. No Espírito Santo, a produção industrial manteve o registro de patamares negativos no acumulado em 12 meses (-4,3%), porém vem registrando taxas cada vez menores desde setembro último. Em relação ao comércio exterior, no 1º semestre do ano, a indústria do Espírito Santo exportou o equivalente a US$ 3,8 bilhões, valor 70,6% superior ao do mesmo período do ano passado.

Preços, Juros e Crédito

A inflação nacional, mensurada pelo IPCA, acumulou alta de 8,35% em 12 meses até junho, patamar acima da meta estabelecida para 2021 de 3,75% com o intervalo de tolerância de +/- 1,5 p.p. Na Grande Vitória, o IPCA subiu mais que a média do país, com alta de 8,88%. Tanto para o Brasil quanto para a RMGV, a recente aceleração nos preços administrados influenciou os resultados do IPCA. Os preços administrados acumulam alta de 12,53% no país e 13,00% na RMGV nesta base de comparação. Entre os principais itens que puxaram a alta dos preços administrados da RMGV estão: a gasolina (47,0%), a energia elétrica residencial (12,7%), o gás de botijão (22,5%) e o plano de saúde (3,1%).

Finanças Públicas e Estaduais

Os resultados do 1º semestre mostram que a receita total do Governo do Espírito Santo alcançou R$9,1 bilhões, montante 8,1% superior ao registrado no mesmo período do ano passado, já descontados os efeitos da inflação. A elevação na receita foi influenciada, principalmente, pela a arrecadação com impostos e outros tributos, que cresceu 14,4% puxada pelo aumento de 20,4% da arrecadação de ICMS.  As despesas públicas somaram R$ 6,8 bilhões no semestre, 3,9% acima do verificado no 1º semestre de 2020. O principal grupo de gastos foi com pessoal e encargos sociais. Contudo, os valores deste grupo reduziram -4,2% em relação ao ano passado. 

Em âmbito federal, a arrecadação totalizou R$ 896,9 bilhões no acumulado de janeiro a junho, acréscimo real de 24,5% em relação ao arrecadado no mesmo período de 2020. Este foi o melhor desempenho da arrecadação federal em um 1º semestre de ano desde o início da série histórica em 1995, já corrigidos pela inflação.

 

O Boletim Econômico Capixaba é uma publicação mensal do Ideies sobre a conjuntura econômica do Espírito Santo e do Brasil.

Para acessar o arquivo com a edição completa do Boletim, clique aqui.

Para acessar o arquivo com todos os gráficos e tabelas desta edição do Boletim, clique aqui.

Sobre o(a) editor(a) e outras publicações de sua autoria

Jordana Teatini

Economista pela UFJF, mestre em Economia pela UFES. Atua como Analista de Estudos e Pesquisa na Gerência de Estudos Econômicos, realizando análises conjunturais e pesquisas com foco nas áreas de Economia Industrial e Inovação.