Em março, queda de 6,2% na indústria reflete o impacto econômico do combate à Covid-19

As medidas de isolamento social adotadas para enfrentamento da epidemia de Covid-19 no mês de março em todo o país impactaram a produção industrial por reduzir ou até paralisar as atividades de cadeias produtivas e comprimir a demanda no mercado consumidor. Na passagem de fevereiro para março já é notável o impacto da pandemia do Covid-19 na atividade industrial brasileira de forma disseminada, em todos os 15 locais pesquisados. No mês de março, a produção industrial nacional teve queda de 9,1% em relação a fevereiro, a retração da indústria atingiu 23 dos 26 setores pesquisados. No Espírito Santo, a produção industrial de março apresentou queda de 6,2% em comparação com fevereiro, a primeira queda mensal em 2020. 

Em março, 3 das 5 atividades pesquisadas na indústria do Espírito Santo apresentaram recuo em relação a fevereiro, na série com dados dessazonalizados, que foram alimentos (-31,7%), minerais não-metálicos (-10,2%) e metalurgia (-22,0%). A comparação do resultado da indústria geral de março de 2020 com o mesmo mês do ano anterior demonstra o forte impacto da epidemia no Espírito Santo (-14,2%). A queda proeminente da produção industrial capixaba no mês de março advém de uma forte contração das atividades da indústria extrativa (-18,6%), da produção de minerais não-metálicos (-10,2%) e da metalurgia (-31,4%).

Considerando o primeiro trimestre de 2020, o Espírito Santo teve o pior resultado do país (-13,3%) na comparação do resultado acumulado de janeiro a março, com o mesmo período do ano anterior. Para o Brasil, a variação trimestral da produção industrial foi de -1,7%. As atividades que mais influenciaram na queda da indústria capixaba no primeiro trimestre foram:

  • os produtos minerais não-metálicos que acumulam queda de 3,4%, o que reflete uma mudança de tendência no setor, já que produtos minerais não-metálicos haviam registrado o maior crescimento na indústria capixaba em 2019 (+10,0%); 
  • a indústria extrativa retraiu 25,6%, em particular devido ao forte impacto negativo do mês de janeiro. Nos meses de fevereiro e março de 2020, esta atividade apresentou resultados mensais positivos, mas a produção de minérios de ferro, óleos brutos de petróleo e gás natural continua a registrar queda em relação ao primeiro trimestre de 2019.
  • a metalurgia acumula queda de 5,3%. Após registrar variações positivas em janeiro e fevereiro, o setor demonstra forte recuo em março devido a redução da produção de bobinas a quente de aços; lingotes, blocos, tarugos ou placas de aços ao carbono e tubos flexíveis e tubos trefilados de ferro e aço.

A celulose, papel e produtos de papel capixaba teve alta de 30,9% em março, devido ao efeito positivo da produção de pastas químicas de madeira, processo sulfato, branqueadas ou não no mês. Mesmo assim, o resultado acumulado no ano foi de 0,4%, dado que a produção de celulose, papel e produtos de papel teve variação de -15,6% no mês de janeiro em relação ao mesmo mês do ano anterior. 


Para abril, o impacto econômico esperado das medidas para o combate à epidemia do Covid-19 também é negativo, considerando que a situação se tornou mais crítica e o isolamento foi prolongado em todo o país. A previsão do Governo de que o PIB brasileiro deve cair 4,7% em 2020 representa a maior recessão da história do país, em um cenário de incerteza para os próximos meses que é intensificado pela forte desvalorização do real e pela expectativa de queda dos preços das commodities e do volume do comércio internacional.

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Vanessa Avanci

Economista, doutora em Economia pela UFF. Analista sênior do Observatório do Ambiente de Negócios, escreve sobre conjuntura econômica e atua realizando estudos e pesquisas sobre a indústria, comércio exterior, produtividade e inovação.