ES registra superávit na balança comercial de US$ 2,5 bilhões entre janeiro e setembro de 2021

O aumento do valor das exportações capixabas é explicado pela alta dos preços das mercadorias

PUBLICADO EM 04 Nov 2021

O fluxo de comércio exterior do Espírito Santo apresentou um forte desempenho entre janeiro e setembro de 2021, quando comparado com o mesmo período do ano anterior. As exportações totalizaram US$ 7,1 bilhões, uma variação de 89,2% em relação ao ano anterior. As importações do Espírito Santo acumularam US$ 4,6 bilhões e subiram 22,9% no mesmo período de comparação. Com o aumento acentuado das exportações, o saldo da balança comercial registrou superávit de US$ 2,5 bilhões, sendo o maior valor registrado no acumulado de janeiro a setembro desde 2015 (US$ 3,4 bilhões).

Ao longo de 2021, o crescimento do valor exportado pelo Espírito Santo foi liderado pela evolução dos preços, que tem se acelerado a cada trimestre do ano quando comparado com o mesmo período do ano passado. Já para as importações, a evolução do valor importado foi puxada pela variação do volume.

Em todas as atividades econômicas do Espírito Santo houve aumento das exportações nos nove primeiros meses de 2021, quando comparado com o mesmo período do ano passado, com a expressiva recuperação das exportações das indústrias extrativas, após os impactos negativos provocados pela pandemia de Covid-19 em 2020.

O valor exportado das Indústrias extrativas foi de US$ 3,4 bilhões e cresceu 150,0% entre janeiro e setembro de 2021 em relação ao mesmo período do ano anterior. O principal produto exportado foi o minério de ferro, cujo valor aumentou 192% e a participação na pauta de exportação do Espírito Santo se elevou de 23,4% de janeiro a setembro de 2020 para 36,2% no mesmo período desse ano. Esse resultado é explicado pela expansão no valor da cotação das commodities. Já as exportações das Indústrias de transformação aumentaram 64,8% e alcançaram US$ 3,1 bilhões, maior valor desde 2008 (US$ 3,4 bilhões) para o período de janeiro a setembro.

Dentre os dez principais mercados de destino para as exportações do Espírito Santo, os Estados Unidos (EUA) continuam se destacando como o maior comprador das exportações capixabas de janeiro a setembro de 2021. No 3º trimestre, o mercado chinês voltou a ser o segundo principal local de destino das exportações capixabas entre janeiro e setembro de 2021 após ter ocupado a quarta posição no acumulado dos seis primeiros meses do ano.

Na economia chinesa, há uma preocupação especial com a trajetória do setor imobiliário devido ao episódio ocorrido com a empresa Evergrande, segunda maior incorporadora de imóveis do mundo, de entrar em default. Os impactos neste setor afetam a principal commodity mineral, minério de ferro, exportada pelo Brasil, o  que contribuiu para a redução do preço internacional do minério de ferro observada em setembro1. Soma-se a esse fato as novas regulamentações para reduzir as emissões de carbono, que tem impactado a produção de insumos industriais, como aço e alumínio, gerando escassez na sua oferta global e pressões inflacionárias.

Ainda sobre os acontecimentos envolvendo o mercado chinês, neste 3º trimestre houve a interrupção das exportações brasileiras de carne bovina para a China, que já dura mais de 45 dias. Apesar desse problema a balança comercial brasileira, entre janeiro e setembro de 2021, registrou os seguintes resultados: as exportações atingiram US$ 213,4 bilhões no acumulado no ano, com alta de 37,0% frente ao mesmo período do ano passado. Do lado das importações, foram registradas US$ 156,8 bilhões em compras externas entre janeiro e setembro de 2021, aumento de 36,4% em relação aos nove primeiros meses de 2020. O Brasil acumulou um superávit comercial de US$ 56,6 bilhões, valor superior ao saldo de US$ 40,8 bilhões do ano anterior.

Por fim, cabe ressaltar a intensificação do debate entorno dos impactos da crise energética mundial e do preço das commodities energéticas (petróleo, gás e carvão)2. Além disso, os gargalos pós-pandemia observados nos principais portos do mundo, prejudicando a cadeia de suprimentos e produtivas globais, desafiam os fluxos comerciais e a retomada da atividade, com impactos de alta no preço dos fretes e atrasos nas entregas da produção em diferentes partes do globo por conta de portos congestionados e falta de contêineres.

 


(1) No 3º trimestre de 2021, principalmente a partir de agosto, houve uma reversão na trajetória de valorização internacional do minério de ferro, impactado em grande medida pela redução no ritmo de crescimento da economia chinesa, a decisão do governo chinês de reduzir a taxa de operação das suas siderúrgicas para cumprir as metas de redução de emissão de carbono e o risco da empresa chinesa Evergrande. Cabe ressaltar que o preço do minério de ferro segue em elevados patamares quando comparado com os últimos 6 anos.

(2) Em um contexto de retomada econômica, diversas regiões do mundo têm passado por escassez de insumos energéticos, principalmente a China com o carvão, o que tem levado ao aumento de demanda por gás natural. A Europa, por sua vez, tem enfrentado a escassez de gás natural devido à maior procura pelo insumo e ao seu estoque reduzido, o que tem gerado aumento do preço do gás, da eletricidade e do barril de petróleo (esse mais especificamente em outubro). No Brasil, a situação presenciada se refere à crise hídrica, provocada pela falta de chuva e consequente acionamento das termelétricas, que operam principalmente com gás natural e possuem um custo de operação maior que as hidrelétricas.

Sobre o(a) editor(a) e outras publicações de sua autoria

Marcos Morais

Graduado em Ciências Econômicas pela UFRRJ e mestre em Economia pela UFES. Atua como Analista de Estudos e Pesquisas na Gerência do Observatório da Indústria. Possui interesse na área de finanças públicas e temas conjunturais.