O papel da indústria do Espírito Santo na pandemia de COVID-19
O Fato Econômico do mês de abril explica o papel da indústria do Espírito Santo na pandemia de COVID-19. Esse surto tem provocado obstruções na cadeia mundial de valor e dificuldades para a compra de itens essenciais. Dessa forma, a existência de cadeias produtivas locais completas e bem estruturadas, com presença de plantas industriais variadas por todo o território se torna ainda mais importante para o estado.
A indústria exerce um papel fundamental para uma economia, sendo considerada como o motor do crescimento sustentável de longo prazo. No Espírito Santo, as 15,5 mil indústrias presentes (dados de 2018) adicionaram um valor bruto de R$ 21,3 bilhões à economia local, respondendo pela renda de 202,3 mil trabalhadores formais. Além disso, em 2019 as atividades industriais geraram R$ 6,4 bilhões em arrecadação estadual e foram responsáveis por US$ 8,1 bilhões em exportações.
Mas, nesse momento atípico para a sociedade provocado pelo COVID-19, as cadeias de produtos e serviços essenciais, indispensáveis ao bem-estar da população, mostram-se ainda mais estratégicas. A indústria cumpre o papel de fornecimento de insumos e de transformação industrial, ajudando a abastecer os mercados e o sistema de saúde com produtos essenciais como alimentos, bebidas, produtos de higiene, remédios, equipamentos de proteção individual e respiradores.
Em 2018, último dado disponível, o estado possuía 6,2 mil estabelecimentos industriais que fabricavam produtos considerados essenciais. Essas indústrias geravam cerca de 72,9 mil postos de trabalho formais para a população do estado. As outras 9,3 mil indústrias, que empregam 129,4 mil funcionários formais, cumprem o papel de dar suporte e de disponibilizar os insumos, máquinas e produtos necessários para a produção dos bens e serviços essenciais e o funcionamento dos serviços públicos e do sistema de saúde.
O mercado mundial também passa por um período de hiperdemanda por Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) e insumos essenciais para a proteção, diagnóstico e combate ao COVID-19, que está gerando uma escassez e disputa via preços. No Espírito Santo, a importação desses produtos retraiu -21,3% na comparação do 1º trimestre de 2020 contra os mesmos meses de 2019, maior que a redução no país (-1,3%). Nos três primeiros meses de 2020, 58,4% das importações do estado vieram da China e 17,9% dos EUA, que são países fornecedores mundiais. Esses e outros países fornecedores estão dando prioridade ao suprimento doméstico e aos compradores que oferecem as melhores condições de pagamento.
Em momentos de escassez de produtos essenciais no mercado, as indústrias locais têm a capacidade de expandir a produção e de adaptar plantas fabris para a produção dos itens necessários à sociedade em sua região. No estado, várias indústrias estão adotando essa estratégia: uma fabricante de ventiladores irá expandir a produção para entregar 135 unidades ao Governo do Estado a preços inferiores ao praticado no mercado; fábricas de vestuário passaram a produzir máscaras e aventais; usinas de álcool elevaram a produção e fizeram doações ao SUS; uma metalúrgica passou a produzir álcool em gel nas suas usinas; uma fábrica de celulose doou milhares de rolos de papel higiênico, 30 respiradores e 80 mil máscaras hospitalares para o estado.
Ressalta-se que o setor industrial capixaba está adotando protocolos de segurança ainda mais rigorosos do que o proposto pelo governo do Espírito Santo.
Acrescente-se o papel da indústria, para além da fabricação em escala dos produtos essenciais, de ajudar a sociedade capixaba e o governo estadual por meio do atendimento das demandas da rede de saúde e de doações, tanto por parte das indústrias quanto por recolhimento de doações da sociedade, em um movimento batizado de #indústriadobem. A Findes contribui, ainda, na proposição de medidas e construção de uma agenda para suporte à economia do estado. O Sesi têm adotado as medidas de saúde e segurança do trabalho, com cartilhas e orientações para os setores industriais e seus colaboradores.
O Senai também está agindo em várias importantes frentes em todo o país, tendo colocado toda a sua rede de inovação no combate ao novo coronavírus. São 27 Institutos Senai de Inovação e 60 Institutos Senai de Tecnologia, além do Edital de Inovação “Missão contra COVID-19”, com até R$ 20 milhões para apoiar desenvolvimento de soluções de impacto contra os problemas gerados pela pandemia. Outras iniciativas de destaque dos Senai pelo Brasil têm sido a capacitação e conserto de respiradores mecânicos danificados e a produção de protetores faciais e outros EPI’s.
Até a data desta publicação, a pandemia de COVID-19 totaliza 2.622.571 casos confirmados e 182.359 óbitos no mundo. No Brasil já são 45.795 pessoas infectadas, sendo 1.351 no Espírito Santo.
Para acompanhar diariamente as informações, acesse o Boletim do COVID-19 elaborado pelo Ideies/Findes.
O setor industrial capixaba se uniu no movimento #indústriadobem:
O objetivo é identificar as principais necessidades do sistema público de saúde e viabilizar o atendimento dessas demandas a partir da conexão de empresas, trabalhadores e da população, colocando os recursos à disposição do Governo do Estado, que os alocará conforme necessidade.
Dentre as atividades já viabilizadas estão a ampliação da produção de ventiladores pulmonares, a recuperação de ventiladores com defeitos, a produção de protetores faciais de máscaras descartáveis e de testes de COVID-19.
O movimento #indústriadobem também está aberto a doações em dinheiro e em material. Todas as informações estão disponíveis no portal http://findes.com.br/industriadobem.
22 Abr
Fato Econômico Capixaba | FEC (abr/2020) |
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Sobre o(a) editor(a) e outras publicações de sua autoria
Thais Mozer
Graduação em Ciências Econômicas e Mestrado em Economia pela UFES, na linha de pesquisa de Economia Industrial. Atua como Analista de Estudos e Pesquisas na Gerência de Estudos Econômico.